terça-feira, 21 de abril de 2009

Odivelas 76-77

Grs. - Nobre, Conde e Castro

Dfs. - Sebastião, Rosa, Pedro Norton de Matos, João Casimiro, Jorge Gonçalves, José Correia e Jean Paul

Mds. - José Carlos Mateus, Canan, Rosário, João Carlos, Quim, Martins e Monteiro

Avs. - Tiago, Adão, Raul e Pedroso

Tr. - António Mourato



Vindo da 3ª Divisão o Odivelas F.C. realizou em 76-77 uma excelente época conseguindo a melhor classificação de sempre: 8º lugar na 2ª Divisão Zona Sul (9 v. 12 e. 9 d. 36-32 g. 30 p.).
Para muitos esta foi também a melhor equipa da história do clube já que se conseguiu reunir na mesma época um lote de jogadores de boa qualidade como foi o caso do guarda-redes Nobre, dos defesas Rosa, Pedro Norton de Matos (um ex-júnior do Benfica que abandonou o futebol muito cedo devido a um problema de saúde) e Jean Paul, dos médios Canan (um jogador muito perigoso nas bolas paradas que ainda fez alguns jogos na 1ª Divisão em 77-78 pelo Marítimo) e José Carlos Mateus e dos baixinhos e tecnicistas avançados Tiago e Adão.
Outra curiosidade relacionada com esta equipa foi o facto de na penúltima jornada ter recebido o Marítimo que em caso de vitória garantia a subida à 1ª Divisão. No entanto e apesar do apoio em maioria dos adeptos madeirenses a viverem na zona de Lisboa, o Odivelas já com a manutenção assegurada conseguiu impôr um empate a uma bola (marcaram Tiago e Arnaldo) adiando a festa que os madeirenses sempre fariam na última jornada depois de vencerem em casa o Olhanense.

sábado, 18 de abril de 2009

Os Números e o Futebol Português: Uma relação díficil

Vou neste texto falar de números, mas não dos números mais conhecidos (ou desconhecidos) do futebol português, embora com esses também haja uma relação díficil é certo...
Vou antes falar de um interesse que fui desenvolvendo juntamente com o gosto por futebol, por documentação ligada ao futebol (colecções, revistas,etc.) que é conhecer o historial dos clubes, os seus resultados e classificações ao longo dos anos, as carreiras os jogadores, o nº de jogos, de golos, etc. Tenho nos últimos dois, três anos dedicado algum do meu tempo a organizar alguns desses dados e já partilhei alguns com os meus amigos colaboradores, alguns também com blogs que coloquei na lista do lado. Infelizmente muitas dessas informações relativas a uma dada época são mesmo as informações possíveis, e repito "informações possíveis" porque e embora não conheça as outras realidades, em Portugal o panorama é sem rodeios, desolador. Para além do trabalho desenvolvido que exige bastante dedicação e paciência e que encontrei em blogs e alguns sites, na maior parte das vezes não por gente da estrutura dos clubes mas sim por "carolas", a restante informação publicada para além da Net (em revistas como os anuários ou livros sobre este tema) que se possa consultar é muito escassa. É verdade que já se fizeram nos últimos anos alguns trabalhos de pesquisa de indiscutível valor entre os quais destaco o recente livro sobre a Académica que já se encontra acessível em Bibliotecas, ou trabalhos do mesmo género relacionados com a história do Olhanense e do Covilhã, e que em minha opinião cumprem bem o objectivo de através das informações recolhidas organizá-las em livro de uma forma objectiva e sucinta como deve ser um trabalho de pesquisa sério, com grafismo de boa qualidade mas sem esquecer que o conteúdo é fundamental.
Mas de um modo geral ainda há muito por fazer nesse aspecto. E embora o trabalho feito por curiosos seja importante, o dever de o fazer não é nosso mas sim dos clubes, ou em última instância das Associações e Federação ou ainda da Imprensa Desportiva a meu ver cada vez mais fraca e tablóide não só no formato mas também no conteúdo. E falando de Imprensa Desportiva, o jornal "A Bola" inovou quando começou por publicar um anuário, os "Cadernos da Bola" que durante os anos 80 e 90 e apesar do seu formato ser sempre um pouco modesto, tinha algum rigor na análise que fazia do futebol português. Nos últimos anos melhorou muito o seu grafismo tornando-se num formato mais chamativo e prático e com mais páginas. Mas quanto ao resto estamos conversados: consultando o último exemplar de 2008-09 composto por 226 páginas (!) verifica-se o seguinte: a 1ª Liga ocupa as primeiras 125(!) páginas com 4 páginas por clube excepto os principais com mais duas, sendo uma de publicidade. Se já é um enorme exagero, embora a pesquisa seja de boa qualidade, não há muito a apontar, a parte da 2ª liga acaba com todas as dúvidas sobre este formato: 67(!) páginas com 4(!) para cada um dos 16 clubes. Restam 33(!) páginas na revista e o mais incrível é que se conseguiu arranjar uma forma de caber lá tudo além de todos os campeonatos da Europa! Apenas duas páginas para todos os clubes da 2ª Divisão e só o campeão (Oliveirense) é que tem os nomes dos jogadores, uma para a 3ª Divisão, os Distritais, Campeonatos Jovens, Futsal, Supertaça e Taça da Liga, três para a Taça de Portugal, dez para os jogos da UEFA, três para a selecção A e das selecções jovens reunem-se todos os escalões numa unica página.
Chego à conclusão de que esta publicação está repartida à imagem do futebol que temos: têem que haver duas Ligas profissionais, impõe-se o tal "Futebol-indústria" regionalizado e litoral tão do agrado da Liga e da Federação e despreza-se o futebol amador (e formador) e o semi-profissional.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

As Teorias de Queirós e a Realidade do Futebol Português

Sendo eu desde que me conheço um adepto do futebol e que gosta de ter um conhecimento concreto das coisas, decidi usar este espaço que criei para fazer uma reflexão à entrevista do Prof. Carlos Queirós no programa "Dia Seguinte" da passada 2ª feira. Sendo o Prof. Queirós entrevistado não por uma mas por quatro pessoas (por três doutores que também já serão doutores do futebol...), o Prof. Queirós, uma pessoa por quem já tive uma grande admiração pelo trabalho desenvolvido nos anos 80 e 90 no qual ao contrário do que constantemente tem vindo a afirmar não esteve sozinho ignorando (propositadamente ou não...) os contributos valiosos do Prof. Nelo Vingada e também de José Augusto numa primeira fase além de outras pessoas de quem herdou um trabalho muito válido como o Prof. Jesualdo Ferreira, teve durante a entrevista de uma maneira geral um discurso que à primeira vista pareceu ao estilo do "velho" Prof. Queirós de há quase 25 anos atrás. Mais uma vez digo aproveito este meu espaço o qual uso como bem entendo, para contrariar alguns dos argumentos do Prof. Queirós:
- Começando por explicar os desaires da selecção das Quinas, repete o argumento de que por lesões não dispôs de todos os jogadores seleccionáveis. Ok de acordo até poderá não ter tido mas o Ibrahimovic não jogou no Dragão (ninguém naquele estúdio se lembrou?). Se o Deco não estava apto porque entrou na 2ª parte?
- Falou na falta de um avançado-centro e de laterais. Ninguém o questionou porque convocou nos últimos jogos Edinho e Orlando Sá e estes foram para a bancada. Não respondeu directamente sobre a exclusão de Nuno Gomes. E não sabia já quando assumiu o cargo que não podia contar com o Pauleta? E para lateral-esquerdo não havia o Antunes, onde é que ele anda?
- Depois sobre as contas do apuramento e respondendo ao Dr. Sílvio Cervan icluíu a Hungria, quer dizer, as contas já são díficeis e a pessoa que está à frente de um grupo que tem de ser motivado e que não lhe passava pela cabeça não se qualificar inclui a Hungria?! Será que ainda vamos jogar à Hungria para empatar? A Hungria está no lugar em que está porque ganhou à Albânia em casa e Portugal não e já fez dois jogos com Malta. Que falta de ambição parece a conversa do Quique Flores, será que vamos também lutar com a Hungria pelo 3º lugar?
Realmente do Prof. Queirós seleccionador não se podia esperar outra coisa, a parte mais interessante da entrevista é a do Prof. Queirós como pessoa de indiscutível valor na reflexão do futebol português mas que (hello!?) já não é o mesmo futebol de há 20,25 anos atrás (mais uma vez ninguém naquele estúdio lhe lembrou esse facto).
Disse o Prof. Queirós e com toda a razão que há estrangeiros em excesso no futebol português, fala também e bem do excesso de estrangeiros no futebol jovem e da dificuldade de afirmação perante esse facto do jogador português. Com toda a a razão também sou dessa opinião, foi o seu trabalho de base que permitiu sem dúvida a afirmação do jogador português numa altura em que os principais clubes contratavam jogadores internacionais do Brasil que vinham para ser verdadeiros reforços, mas onde devido à limitação dos estrangeiros o jogador português encontrava o seu espaço. Falou que Portugal não ganha um título desde 2003 (e foi em casa nos sub-17) isso eu também sabia, mas pronto é sempre bom ouvir outra opinião...
Mas na minha opinião é que criou-se já há alguns anos e fruto dessas conquistas no futebol jovem e das boas campanhas da selecção A, a ideia (com Gilberto Madaíl e os seus seguidores à cabeça) do futebol já não como desporto mas como indústria, a teoria do Futebol-indústria, do futebol que dê resultados rapidamente, essa teoria tem vingado como ideia central e transmitiu-se aos clubes mais importantes e com mais responsabilidade, criaram-se as Academias não para se formarem jogadores mas sim para se fazer uma triagem, como referiu Queirós à maneira dos americanos (que como se sabe adoram o soccer...) de 200 ou 500 para se escolherem dois ou três, como é que o jogador português tem oportunidade de crescer se lhe colocam no mesmo ambiente (no quarto, no refeitório, no relvado...) jogadores vindos de África mas já não da África tradicional mas da zona central de África, da América do Sul, de países de onde já são internacionais nas camadas mais jovens e que têem de ser rentabilizados porque dá despesa sustentá-los, têem de ser rapidamente integrados no futebol português e depois aparecem "fenómenos" como Yannick Pupo (onde é que ele anda?), Yu Dabao (não é titular no Moscavide), Vinicius Golas (foi emprestado ao Odivelas onde ainda não se impos), Luis Paez no Fátima a mesma coisa, só para dar alguns exemplos. Por outro lado não há paciência para o Fábio Paim (porque é que o Chelsea o quis?), o João Coimbra, o Bruno Matias, o Fábio Coentrão, etc. Não se dá tempo para o jogador se desenvolver.
É que na década de 80 fez-se um trabalho de base do melhor que foi feito no futebol português mas houve uma prospecção de jovens talentos de 14,15 anos feita por todo o país e havia sempre espaço para os jovens que logo no 1º ano de sénior ou ficavam no clube formador (como aconteceu com Figo e Peixe no Sporting, Rui Bento e Paulo Sousa no Benfica e Vítor Baía e Domingos no Porto) ou jogavam na 2ª Divisão de Honra e até na 2ª B, estou-me a lembrar de equipas do Atlético treinadas por Damas e Dominguez, do Amora ou do Rio Ave quando foi treinado pelo Inácio onde jogaram muitos ex-juniores do F.C.Porto.
Outro factor decisivo e de que ninguém falou tem a ver com o crescimento das localidades que impede cada vez mais a prática do Futebol de rua em Portugal, joga-se muito na escola e nos clubes mas a escolaridade obrigatória é cada vez mais extensa e estudar e treinar é cansativo, as condições de jogar na rua ou em pelados ao sol e à chuva favoreciam muito mais a capacidade de improviso e a técnica tão típica dos jogadores do sul da Europa e que subsiste cada vez mais em África e na América Latina é um factor que eu considero decisivo no desenvolvimento de um futebolista. Um jovem de 17,18 anos é actualmente e de um modo geral mais imaturo do que nessa época, tem menos experiência de vida, é mais dependente dos pais, tem menos liberdade e tempo para outras actividades lúdicas. Como é que o Prof. Queirós quer introduzir de novo os prolongados estágios que fazia nos anos 80 e 90?
Se diz que agora está mais acompanhado para desenvolver esse trabalho recordo-lhe o ditado "Antes só que mal acompanhado".
Finalmente e concluindo (habilmente ou não...) sem referir os quadros competitivos arcaicos e que o senhor Rui Santos, outra pessoa que sabe pensar o Futebol Português, mas que como anda muito empolgado em ser o Comandante do Movimento Pela Verdade Desportiva (MPVD até parece um nome dum Partido não?) se tem esquecido, acaba a entrevista a falar em "Talibans" e perante a pergunta do Dr.Dias Ferreira (diga quem são?), diz não serem os dirigentes(?!) mas sim "pessoas que nunca jogaram à bola e que só sabem correr atrás dos autocarros", realmente não encontro dessa gente no mundo do futebol, por acaso até pensava que o Prof.Queirós foi no início dos anos 80 uma dessas pessoas, fiquei desiludido. Compreende-se então a grande diferença entre este Carlos Queirós e o original, há que não levantar ondas, agora que se está bem na vida e bem acompanhado, sem porcaria à volta...
Nunca fui um grande admirador de Scolari, achei que o seu ponto forte não era treinar como se provou no Chelsea, mas sempre admirei a sua coragem dentro e fora da família da selecção (que havia) para enfrentar as "vacas sagradas" do futebol português.